terça-feira, 2 de junho de 2009

Um pouco diferente


Uma pacata família de lobos procurava criar seus quatro filhos da melhor forma possível. Ensinara a eles todas as artimanhas de caça e tudo que podiam, para fazer de seus lobinhos os mais respeitáveis animais da floresta. Os pequenos eram dedicados e esforçavam-se para praticar o que seus pais lhe haviam ensinado. Quando anoitecia na floresta, os lobinhos lançavam ao ar os acordes desafinados de seus primeiros uivos.
Um daqueles filhotes, porém, por mais que se esforçasse, não conseguia agir conforme o padrão e ser o lobo que todos esperavam que fosse. Ele apreciava mais a liberdade de seus pensamentos do que o cumprimento da tradição de sua raça. Uivava pela manhã saudando o sol, mas não a a noite para a lua. Não passava tanto tempo caçando e preferia passar horas e horas apreciando as estrelas cintilarem no céu e contando histórias fantásticas que aprendera com os outros animais da floresta. Isso o deixava muito feliz, ao contrário dos outros lobos que o olhavam com desdém por causa desse seu jeito estranho. "Esse aí é o lobo mais esquisito que já viveu por essas bandas"- cochichavam uns com os outros na alcatéia.
Mesmo sabendo que não era compreendido e aceito pela comunidade onde vivia, nada mudava em seu modo de ver a vida. Procurava aprender algo novo com cada animal. Descobriu a utilidade de um dique com um castor. A doçura do mel com os ursos. A arte da teia das aranhas. Seus olhos enxergavam cada vez mais a beleza da vida.
O comportamento do jovem lobo tanto incomodou os demais, que decidirma fazer uma reunião. Próximo ao pinheiro mais alto da floresta, o grupo traçou o destino do lobo.
_ Estamos aqui reunidos para tomar uma atitude a respeito daquele que não quer seguir os costumes milenares de nossa espécie. Assim, peço que votem pela expulsão desse estranho para bem longe de nosso domínio - declarou o lobo mais velho.
A decisão de afastá-lo seria unânime, exceto por um jovem lobo, que interrompeu a reunião: _ Porque temos de decidir sobre a vida de nosso colega? Ele tem o direito de fazer o que quiser. De ser como é!
-Ele não tem o direito de envergonhar nossa espécie!- esbravejou o velho lobo.
Atrás de uma árvore, escondido, o lobo ouvia a tudo com tristeza, sentindo que sua presença naquele lugar tinha chegado ao fim. Cabisbaixo, seguio pela trilha do norte e desapareceu floresta adentro. Nunca mais foi visto.
Nas manhãs de primavera, quando o cálido vento matutino soprava, podiam se ouvir ao longe os acordes do solitário uivo de um lobo que ousara ser simplismente autêntico.

Paulo Debs

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