quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Felicidade Repentina

Engraçado como a vida as vezes se mostra pra gente.. Bem, lá estava eu mais uma vez entrando no ônibus e indo para casa, depois de uma tarde estressante e cansativa de estudos, embalada nos meus muitos pensamentos, querendo ficar quieta e em silêncio. Entrei e, sentei logo ali bem na frente ao lado de um garotinho e pensei "acho q ele não vai me incomodar, está com a cabeça na janela entertido com a rua, ah de ficar assim". Poucos minutos depois ele olhou pra mim e sorriu, aliás, tinha um belo sorriso. Olhou de volta pra janela se virou rapidamente para mim, perguntou meu nome e começou a falar sem parar, eu exitei algumas vezes em responder, queria mesmo ficar quieta e calada,  depois pensei vou responder rápido pra ele, assim ele me deixa em paz de uma vez. No mesmo instante fui tomada por um sentimento de culpa e um outro tipo de pensamento invadiu a minha mente, poxa vida, ás vezes a única coisa que um pessoa precisa é de atenção, carinho e um sorriso, seja generosa.. Quantas vezes eu mesma precisei disso e não tive minhas necessidades respondidas, e como foi difícil pra mim mesmo sendo adulta. Me senti culpada por não querer dar atenção pra ele e meu coração encolheu dentro de mim, porque fazer isso com um a criança ainda tão pequena, e tão pura. Sim, porque pureza é tudo que nunca falta a uma criança. Deixei de lado minha chatice e solidão, olhei pra ele e perguntei seu nome, idade, de onde vinha, pra onde ia..blá, blá, blá. Agora quem não parava de tagarelar era eu, ele parecia feliz ao me ver finalmente correspondendo aos seus gritos internos, em poucos minutos descobri que ele se chamava André, tinha 12 anos, era o sexto de uma família de nove filhos, onde cinco eram adotados, inclusive ele, tinha cinco sobrinhos todos pequenos, dois irmãos casados e uma irmã separada, nessa parte ele fez uma careta sentindo muito por ela e, mesmo sendo tão pequeno já era capaz de compreender o sofrimento que carrega uma separação. André vinha da escola sozinho e estava indo pra casa, ele estavachateado por causa da distância entre sua casa e a escola, chegou a fazer comentários sobre a poluição sonora, a poluição de tráfego, mostrava se interessado por questões ambientais - ele disse que bom mesmo seria se todo mundo optasse pela bicicleta e que os postes deviam ser de borracha - ai fui dando assas pra imaginação dele e rimos alegremente com aquilo. Por outro lado pensei na minha filha, por ela não precisar pegar ônibus sozinha aos doze anos de idade no meio de uma cidade violenta e perigosa como é Recife e agradeci aliviada.
Pouco tempo depois André começou a arrumar suas coisas e foi me dando uma certa tristeza, naquela altura já tinhamos nos cativado, ele ja ia descer na parada seguinte e eu estava gostando da sua companhia. Agora, voltaria a ficar sozinha e isso eu já não queria mais, queria conversar, saber mais, quem sabe lhe dar algum sorriso de gratidão por ele ter me salvado naquele instante da minha vida. Mas ai ele olhou para mim, segurou minha mão e disse: Kaline eu sou muito carente porque sou sozinho, obrigado por estar aqui comigo e beijou minha mão. Eu não sabia o que disser fiquei chocada, na verdade não saberia até agora, a única coisa que lembro ter dito foi "você é muito educado", ai ele beijou meu rosto e, foi embora. Fiquei olhando ele descer do ônibus, e lá embaixo, parou e ficou acenando com as mãos até o ônibus ir embora, eu continuei sentindo o beijo dele no meu rosto e tentei até segurar o beijo pra não perder tudo aquilo que eu estava sentindo naquele momento mágico e terno da minha vidinha... aparentemente um garoto como outro qualquer, mas de fato uma criança cheia de sonhos querendo apenas uns poucos minutos de atenção. Tudo o que eu estava me negando a dar e receber também. Entendei mais uma vez que de nada vale ser cercado de pessoas e ao mesmo tempo estar tão sozinho. (Mas, por que nos tornamos adultos tão complexos e chatos?). Derrepente, no meio de toda aquela confusão de ônibos,  trânsito, barulho e gente passando pra lá e pra cá me veio uma "Doce Felicidade Repentina" que talvez a gente só consiga na presença de boas crianças, acho que na presença de crianças iluminadas, e quem sabe, pequenos anjos.  

by Kaline Aragão

Um comentário:

Karla Clécia disse...

adorei... hihihihi.