segunda-feira, 8 de junho de 2009



O grande circo místico

Trecho do livro Brenda Brasil
Aventuras e desventuras de uma poeta brasileira


Brenda vai andando lentamente até o quarto, e ao entrar, fecha a porta e corre para a janela; num salto olímpico ela a atravessa, como se a casa estivesse pegando fogo.
Ela corre em direção a porteira e lá, ela encontra o Max encostado numa moto antiga e suja.
-Estou pronta! Vamos?
-Sim, deixe-me ligar essa lata velha.
O rapaz tentou, mexeu, bateu, chutou e por fim, desistiu:
–Acho melhor a gente ir a pé. – Também acho. Responde a poeta.
O rapaz estende o braço para Brenda, mas a poeta descontente pega descaradamente na mão dele. O que os dois não perceberam, é que a mãe de Max espiava tudo por entre a gelosia da janela da sala.

Os dois andam sob aquele céu estrelado, de mãos dadas e sorrisos cruzados. Todo o tempo do mundo era mensurável para tamanho afeto recíproco. Ambos cantarolam e dançam cantigas de roda.

Naquela noite mística, Max e Brenda Brasil voltaram a ser criança. As roupas cresceram e descolaram dos corpos, enrugando-se e arrastando no chão. A poeta não mais pensava em poesias ou tristezas, apenas em doces e bonecas. O rapaz teve o rosto afinado, que num átimo de segundo, tornou-se, liso e imberbe. Os dois andavam sem culpa e sem medos. Eram apenas duas crianças de dez anos andando sobre uma terra de estrada, com os sapatos largos que sambavam e, de vez em quando, fugiam-lhe aos pés. As presilhas do cabelo de Brenda escorregaram e caíram, de tanto lutar para se manterem naqueles cabelos cada vez mais finos e lisos. Nada mais segurava os dois desbravadores de sonhos, e só o céu foi testemunha.

Lá ao longe eles conseguiam enxergar algumas luzes. Ao se aproximarem eles encontram uma bandinha de fanfarra, muitos palhaços, contorcionistas, mágicos e animais. –Olha lá o cavalo! Gritou o menino.

Um pierrô sorridente se aproxima das duas crianças e pergunta se eles não querem assistir a próxima atração. –Claro! Quanto é? Eu pago. Disse euforicamente o menino. –Dez reais o casal. –Feito! Após pagar os ingressos, Max e Brenda entram naquela enorme tenda, moradia de tristes saltimbancos. Os dois sentam-se num banco de madeira bem pertinho do palco.

-Senhoras e senhores! Respeitável público! Tenho o prazer de anunciar o início do espetáculo “Lago dos sonhos” com o grupo mambembe: Desatinados!!! Entra uma música bem alta e começa a entrar vários cavalos brancos com mulheres em pé sobre o lombo deles. Os olhos das crianças brilham e reluzem os holofotes, sem ao menos dar uma piscada. Mulheres descem do teto do circo, penduradas em um laço vermelho. Clowns ébrios choravam lágrimas sobre toda a platéia. Brenda não consegue conter a alegria e sorri freneticamente. Nesse ínterim de felicidade, Max abraça a loira de cabelos finos e dá-lhe um singelo beijo. A poeta menina sente uma certa luxúria intercostal, imprópria para criança daquela idade. Ela encosta a cabeça no ombro do menino e assiste ao resto do espetáculo sem dizer uma única palavra. Ao final, os aplausos aceleram os batimentos de Brenda mais uma vez.

Os dois saem de mãos dadas com um sorriso lustroso e incomensurável. –Você viu na hora que o palhaço caiu no chão? E o elefante? E os cavalos? Max perguntava tanta coisa para a poeta, sem nem mesmo deixá-la responder. Para fazê-lo calar, Brenda puxou o rapaz pelos colarinhos e deu-lhe um beijo adulto e despudorado. Max cala-se rapidamente. Os dois começam a voltar pela estrada de terra num silêncio sepulcral; a música da fanfarra começava a se extinguir e o céu perde o brilho. –Por que você está quieta? –Porque o meu ex era músico e adorava circo. –Você ainda gosta dele?
–Bem, o meu sentimento não é tão ancho quanto antes, mas eu ainda gosto sim.
-Então por que você não volta com ele? –Porque ele me deixou. A poeta começa a chorar e se ajoelha no chão. Max acaricia aqueles cachos loiros e beija a nuca de Brenda, abraça-a e diz que tudo na vida tem um começo, meio e fim.
Após alguns acalantos e fornicoques, ela começa a se dissolver nos fortes braços do rapaz, e entre beijos e carícias, os dois se unem para endossar o firmamento daquela homérica alegria, na estrada de terra batida.

Daniel Lellis Siqueira

Um comentário:

Unknown disse...

Line, ffiquei honrado em encontrar esse trecho do meu livro em seu blog. Ganhei meu dia.
Fique com Deus.
Um beijo